The Catcher in the Rye (O apanhador no campo de centeio): qualquer tentativa de traduzir o título do livro trairá a multiplicidade de significados que ele esconde. Rye é o nome de um riacho na Escócia, a que Robert Burns se refere no poema chamado Comin’ Through the Rye, e contém uma crítica implícita à ideia de sexo casual. Rye é também o Rye Field, campo de centeio, em que o protagonista se imagina com várias crianças bem mais novas que ele, e no qual ele seria um apanhador de crianças que tentam fugir. Fugir do que? Da própria infância, a época mais maravilhosa da vida, e de sua inocência, que Holden Caulfield está progressivamente perdendo, aos 17 anos, quando se aproxima da vida adulta, quando o amor e a ternura inerentes à idealização infantil se transformam em sexo.
Holden se recusa a abandonar esse mundo, a entrar no mundo dos adultos, e por isso se sente deslocado em uma sociedade que exige continuamente que ele cresça. Por isso ele se sente tão desajustado neste mundo (A grande questão metafórica do livro é Para aonde vão os patos do Central Park durante o inverno, quando os lagos congelam? Essa questão remete ao desamparo que sentimos nos momentos de transição, e ao modo como alguns de nós somos protegidos, e outros não, nesses momentos). Holden é apenas uma criança que quer permanecer sendo criança em um mundo que exige dele o contrário. Fugindo da colégio interno que em breve o expulsaria, depois de ter sido reprovado em quatro de cinco disciplinas (“menos em Inglês”), Holden volta para sua cidade, Nova York, mas precisa se esconder dos pais (pois só é esperado em quatro dias). Por isso, ela passa três dias incógnito, hospedando-se em hotéis baratos, dormindo na casa de ex-professores ou em bancos de estações de trem, fumando e bebendo muito (apesar de ser proibido), encontrando-se com prostitutas, cafetões, freiras, motoristas de táxis, ex-namoradas, ex-professores, pervertidos em geral e irmãos, mas fugindo sempre de seus pais e do futuro inevitável.
No livro, o amor inocente que Holden sente por crianças mais novas é o amor por si próprio quando era mais novo, e portanto uma tentativa de agarrar-se à vida que está prestes a perder. É um livro maravilhoso, um verdadeiro Bildungsroman, para ser lido aos 16, 26, 36, 46, 56, 66…
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