Um dos livros básicos do hinduísmo e de todas as suas derivações, como os Hare Krishna, o Bhagavad Gita é também uma belíssima obra literária e um tratado de Filosofia Oriental (tema que tem me interessado bastante nos últimos tempos: a Filosofia e a Literatura Orientais). O livro faz parte de um relato mais amplo, o Mahabharata, que conta a história da guerra dos pandavas com os karauvas pelo trono.
O arqueiro Arjuna, um pandava, olha os dois exércitos que estão prestes a se envolverem em uma sangrenta batalha (4 milhões de pessoas irão morrer, e apenas 18 pessoas sobreviverão) e reconhece mestres, parentes e amigos do lado de seus inimigos. Em desespero, está prestes a desistir da batalha, pois é um dever não matar seus parentes e mestres, mas, para ele que é um guerreiro, é também um dever lutar. Pede então a seu amigo, e condutor de seu carro, Krishna, que o ensine.
Krishna, uma das encarnações do deus Vishnu, ensina que todos os homens ali já estão mortos, e, ao mesmo tempo, que são imortais. Por isso, Arjuna deve fazer seu dever, mas, para alcançar a paz, deve fazê-lo com desapego, sem esperar qualquer resultado, sem esperar qualquer recompensa. Só esse tipo ação (dharma – a ação desapegada, independente de qualquer resultado, algo que tem muito a ver com a ética de Immanuel Kant) tem valor. Se Arjuna quer serenar seu espírito, há três disciplinas (a palavra disciplina em sânscrito é Yoga, que se liga a Yoke em inglês e a Jugo em português, sendo ambas, junto com a língua sagrada dos hindus, línguas indo-européias) que podem produzir a paz: a disciplina do conhecimento e da luz (Jnana Yoga), a disciplina da devoção e do amor (Bhakti Yoga) e a disciplina da ação (Karma Yoga). Depois de ser ensinado, e de perceber que todo o universo está interconectado por causas produzidas por pela, Arjuna decide lutar.
Apesar de a Filosofia Oriental se expressar de um modo muito diferente da Ocidental, entremeada com ideias religiosas e por imagens (e não por conceitos, como na filosofia ocidental), há noções puramente filosóficas no texto, muito semelhantes ao Estoicismo e às filosofias de Platão, de Aristóteles e de Kant.
Uma curiosidade é que o capítulo 9 deu origem à letra da canção Gita, de Raul Seixas e Paulo Coelho.
Por sua beleza e erudição, a tradução para o inglês aqui indicada, de Juan Mascaró, é um marco da tradução de textos orientais no ocidente.
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