Rubem Alves é um dos maiores educadores, filósofos e teólogos que já houve no Brasil. Em todas essas facetas de seu pensamento, o que sobressai é, no entanto, a do escritor: a forma é tão (ou mais) importante quanto conteúdo em seus textos, ricos em imagens e analogias.
Neste pequeno livro, Entre a ciência e a sapiência, que pode ser lido em menos de um dia, vinte e dois pequenos textos são reunidos em quatro partes. Ele começa discutindo sobre o sentido da escola: não ensinar a pescar o peixe, nem sequer a prepará-lo, mas, como ele diz em outros livros, despertar a fome. Roberto Marinho e os professores podem despertar a fome, por meio da Rede Globo, por meio de suas aulas, cheios de humildade perante a maravilha do mundo. Depois ele passa para o tema da leitura. Precisamos ensinar os alunos a ler. Não a decifrar os símbolos linguísticos, mas a desejar a história que está no livro como o faminto deseja o alimento. A Universidade abandonou essa missão, e tornou-se, em sua opinião, uma máquina de produzir artigos científicos, na qual os alunos são um estorvo. Isso o leva a discutir o problema da ciência (um amigo reclamou que a editora não queria publicar seu livro porque não era científico, e perguntou a Rubem Alves: O que é o científico?). A ciência é muito útil, mas tornou o homem unidimensional. Ela precisa de algo mais que a verdade para se legitimar. Finalmente, por trás de tudo, unindo tudo e dando sentido a tudo o que diz, Rubem Alves volta a ser teólogo. Ele compara o universo a relógios (o universo mecânico, feito de matéria e energia) e a computadores (o universo que possui algo que não é nem matéria nem propriamente energia, mas memória). Imagina que o universo talvez tenha uma disco rígido que permita resgatar o que aparentemente morreu. E diz: “Qual seria o nome apropriado para essa memória do universo que salva, eternamente, as coisas do amor e apaga, eternamente, as coisas do ódio? Talvez Deus”(p. 148).
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